Enquanto a região sudeste do Brasil ainda lida com a crise hídrica, o professor Tony Wong, chefe executivo do Centro de Pesquisas Cooperativas para Cidades Sensíveis à Água, uma iniciativa do governo australiano, garante que o período pode ser usado para o desenvolvimento do país e para o bem futuro.
“A crise é uma ótima oportunidade para mudar a cultura, comportamentos e atitudes. Ela sempre pode ser usada para criar oportunidades”, explicou o especialista. Para justificar este fala, Wong lembrou da crise hídrica que atingiu o estado de Victoria, na Austrália, com mais destaque para a cidade de Melbourne. O período crítico, que durou 13 anos, serviu para que o país investisse em mudanças que permitiram o uso mais inteligente dos recursos e mananciais.
O professor está em visita ao Brasil para uma missão educacional, cujo intuito é compartilhar conhecimento e estabelecer projetos e parcerias de interesse mútuo entre o Brasil e a Austrália. Em entrevista ao CicloVivo, o especialista comentou sobre estratégias aplicadas em Victoria para reestabelecer a distribuição de água e garantir que a população use adequadamente o recurso para que ele continue disponível no futuro.
Wong garante que as próprias cidades, mesmo em momento de crise, possuem enorme potencial hídrico que, muitas vezes, é mal utilizado. Para ele, essa consciência é o primeiro passo para o desenvolvimento no setor.
Ao citar os exemplos de Melbourne, o australiano lembrou que, durante os períodos de crise, algumas medidas emergenciais são tomadas, mas elas nem sempre são ideais. Assim como aconteceram erros estratégicos em São Paulo, também ocorreu na cidade australiana. Uma demonstração foi a construção de uma grande usina de dessalinização de água. O projeto parecia ser uma das únicas maneiras de continuar a abastecer a cidade com água potável, mas se mostrou um grande erro. O sistema é muito caro e altamente tecnológico e poluente, devido à grande quantidade de energia para o seu funcionamento.
Após a experiência, Wong garante que o governo local percebeu que a mesma estratégia imediata não deve se repetir. Ao invés disso, é necessário implantar mudanças em longo prazo, que permitam o melhor aproveitamento da água e reduzam ao máximo o desperdício.
“Nunca é tarde”, explicou ele, quando indagado sobre a situação paulistana. A região metropolitana de São Paulo tem passado por longos meses com baixos índices pluviométricos e constantes crises no abastecimento, mesmo tendo dois grandes rios que cortam quase todo o município. Para Wong, ainda é possível recuperar os rios Tietê e Pinheiros, mas para isso é preciso um esforço comum, que envolva todos os setores. Segundo ele, não será apenas a tecnologia que fará a diferença, mas é preciso garantir que a água não continue a ser poluída e isso envolve a iniciativa pública, privada e a própria população.
Foto: Fernando Stankuns/Flickr
Para evitar uma crise hídrica é preciso ter em mente que toda a água pode ser útil, para fins diferentes. Assim sendo, a água potável deve ser preservada apenas para fins potáveis. Enquanto isso, a água cinza e da chuva podem ser usadas para todas as outras finalidades. Este é apenas um dos conceitos aplicados pelo programa “Cidades Sensíveis à Água”, criado pelo governo australiano para promover estratégias e sistemas de gerenciamento de água.
Apesar de as soluções serem particulares e diferentes para cada região, alguns princípios são os mesmo em qualquer lugar. É imprescindível trazer a natureza de volta às cidades. A criação de áreas verdes próximas aos mananciais ajuda a reduzir a poluição e a purificar a água. A agricultura é um setor que necessita de grande quantidade de água para a produção de alimentos. Assim, outra opção indicada pelos especialistas para este modelo sustentável é o investimento em plantios dentro das cidades. A própria água de reúso pode ser destinada a este fim, economizando recursos e promovendo o melhor uso dos espaços.
As construções também podem fazer grande diferença na redução dos problemas hídricos. Prédios com sistemas de captação de água da chuva, telhados e paredes verdes e construídos de maneira a reduzir os impactos ambientais da obra são algumas das sugestões.
Wong explica que São Paulo tem uma situação bem particular, devido à alta densidade. Mas, ele garante que é possível tornar a capital paulista uma cidade sensível à água. “O primeiro passo é o engajamento, a informação e a conscientização, principalmente governamental. É necessário conseguir um capital social, trabalhar a conscientização sobre os cuidados com a água, sobre como evitar a poluição, o desperdício. As pessoas precisam entender como esses fatos estão conectados”, finalizou o professor.
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Por Thaís Teisen – Redação CicloVivo