Diabetes melito (DM), segundo o ACSM (2014), é um grupo de doenças metabólicas caracterizado por elevação da concentração de glicose sanguínea como resultado de defeitos na secreção de insulina e/ou da inabilidade de utilizar a insulina.
São reconhecidos quatro tipos de diabetes com base em sua origem etiológica: tipo 1, tipo 2, gestacional (diagnosticada durante a gravidez) e outras origens específicas (defeitos genéticos e induzida por medicamentos); entretanto, a maioria dos pacientes tem o tipo 2 (90% dos casos), seguido pelo tipo 1 (5 a 10% de todos os casos).
Tratando-se do exercício físico, segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes Melito 2017-2018 (2017), em associação com a dieta, é recomendado a atividade aeróbia de forma moderada, que seria a caminhada rápida, que leve 150 minutos semanais, dividido em três seções, onde cada uma deve durar no mínimo 10 minutos e no máximo 75 minutos.
O DM tipo 1 é causado mais frequentemente pela destruição autoimune das células b pancreáticas produtoras de insulina, embora alguns casos tenham origem idiopática(surgido espontaneamente ou de causa obscura ou desconhecida).
As principais características dos indivíduos com DM tipo 1 são a deficiência absoluta de insulina e alta propensão a cetoacidose (Complicação grave do diabetes que ocorre quando o corpo produz ácidos sanguíneos (cetonas) em excesso.).
O DM tipo 2 é causado por músculo esquelético, tecido adiposo e fígado resistentes à insulina combinados com um defeito na secreção de insulina. Uma característica comum do DM tipo 2 é o excesso de gordura corporal com distribuição de gordura na porção corporal superior (obesidade abdominal ou central).A obesidade central e a resistência à insulina frequentemente progridem para o pré-diabetes.
Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017 – 2018 (2017), Diabetes e suas complicações constituem as principais causas de mortalidade precoce na maioria dos países; aproximadamente 5 milhões de pessoas com idade entre 20 e 79 anos morreram por diabetes em 2015, o equivalente a um óbito a cada 6 segundos.
Cuidados associados ao exercício físico em indivíduos com diabetes: hipo e hiperglicemias
Hiperglicemia
Nos indivíduos com DM1 em privação de insulina por 12 a 48 horas ou em uso de dose aquém do necessário (por exemplo, omissão de dose), apresentando hiperglicemia e cetose, o exercício físico pode piorar a hiperglicemia, agravando a cetose e a desidratação. Recomendações tradicionais sugeriam a suspensão do exercício físico em caso de glicemia acima de 250 mg/dL na presença de cetose ou em caso de glicemia acima de 300 mg/dL, mesmo na ausência de cetose.
Nos indivíduos com DM2, entretanto, caso estejam bem insulinizados ou tenham boa reserva insulínica, especialmente se no período pós-prandial, o exercício de intensidade leve a moderada ajuda a diminuir a glicemia. Pacientes com DM2 não precisam adiar o exercício físico por causa da hiperglicemia, desde que se sintam bem, preparados e aptos para o exercício a que se propõem; a tendência é que os níveis de glicose caiam com a atividade, que pode ser feita em segurança, devendo-se atentar à hidratação na presença de hiperglicemia. Já em pacientes com DM1, o aumento da glicemia após exercício de alta intensidade pode ser evitado com o uso de uma pequena dose adicional de insulina ultrarrápida no meio da atividade ou após o término do exercício, tendo-se o cuidado de observar que, tardiamente, esse exercício aumentará a sensibilidade à insulina, podendo favorecer uma hipoglicemia tardia.
Hipoglicemia
O exercício físico é um dos fatores precipitantes mais frequentes da hipoglicemia, que ocorre por excesso de insulina circulante durante o exercício, seja pelo aumento da absorção de insulina injetada no tecido subcutâneo (induzido pela atividade física), seja pela perda da capacidade endógena de diminuir os níveis circulantes de insulina no exercício, prejudicando a liberação hepática de glicose, o que predispõe o indivíduo a um quadro de hipoglicemia entre 20 e 60 minutos após o início do exercício.
Outro fator importante é perda do mecanismo contrarregulatório por sessões prévias de exercício ou por episódio hipoglicêmico recente. Assim, atletas com DM1 que apresentaram hipoglicemia nos dias precedentes a uma competição estão em maior risco de hipoglicemia associada ao exercício.
O exercício também melhora a sensibilidade à insulina na musculatura periférica, efeito que pode manter-se por várias horas a dias após o exercício, de modo que alguns atletas com DM1 podem apresentar um quadro conhecido como hipoglicemia tardia relacionada ao exercício, o qual pode acontecer quando o atleta está dormindo, determinando, nesses casos, a necessidade de monitoração mais frequente ou de lanches extras.
Quanto à modalidade do exercício, uma alternativa para minimizar o risco de hipoglicemia é intercalar atividades de “explosão” (como tiros curtos, por exemplo) ou antecipar o exercício resistido, realizando-o antes do treino aeróbico, a fim de minimizar o efeito hipoglicemiante desse último.
Cuidados e recomendações gerais sobre atividade física no diabetes mellitus
Cada sessão de exercícios físicos deve incluir períodos de 5 a 10 minutos de aquecimento com exercício aeróbico em baixa intensidade. Após o aquecimento, é preciso fazer alongamento por outros 5 a 10 minutos. Ao final do exercício, o período de resfriamento deve ter também de 5 a 10 minutos, reconduzindo a frequência cardíaca ao nível de repouso.
Cuidados com os pés na atividade física aeróbica são fundamentais para indivíduos com diabetes: tênis adequado, eventualmente com uso de palmilhas especiais (se indicado) e meias apropriadas (sem costura interna), a maneira de manter os pés confortáveis e secos, especialmente naqueles com neuropatia diabética. Os indivíduos devem ser sempre relembrados da importância do exame dos pés antes e depois dos exercícios, atentando para o surgimento de bolhas. Um bracelete de identificação deve ser usado pelo atleta com diabetes, especialmente aquele em uso de insulina ou em risco de hipoglicemia.
Para crianças e adolescentes, recomendam-se atividade física aeróbica com duração de 60 minutos por dia (recreativa) e sessão de atividades vigorosas três vezes por semana. Já em adultos, indica-se exercício aeróbico moderado com duração de 150 minutos por semana, exercício aeróbico intenso de 75 minutos por semana ou a combinação das duas intensidades, além de exercícios de fortalecimento muscular no mínimo duas vezes por semana.
Segundo o ACSM (2014), Os benefícios do exercício regular para indivíduos com DM tipo 2 e pré-diabetes incluem a melhora da intolerância à glicose, o aumento da sensibilidade à insulina e a diminuição de HbA1C.
Em indivíduos com DM tipo 1 e aqueles com DM tipo 2 utilizando insulina, o exercício regular reduz as necessidades de insulina. Alguns dos benefícios importantes causados pelo exercício em indivíduos com DM tipo 1 ou tipo 2 ou pré-diabetes incluem melhora dos fatores de risco de DCV (perfis lipídicos, pressão arterial [PA], peso corporal e capacidade funcional) e do bem-estar.
A participação em exercícios regulares também pode impedir ou pelo menos atrasar a transição para DM tipo 2 em indivíduos com pré-diabetes que tenham alto risco de desenvolvimento de DM.
Para aqueles com DM tipo 2 e pré-diabetes, o exercício aumenta a sensibilidade à insulina incrementando a captação celular de glicose a partir do sangue, facilitando a melhora do controle da glicemia.
Para aqueles com DM tipo 1, a maior sensibilidade à insulina tem pouco impacto sobre a função pancreática, porém, frequentemente diminui a necessidade de insulina exógena.
Frequentemente, a perda saudável de peso e a manutenção do peso corporal adequado são questões mais importantes para aqueles com DM tipo 2 e pré-diabetes, porém, o excesso de peso e de gordura corporais pode estar presente em indivíduos com DM tipo 1 também e o programa de exercícios pode ser útil nesse contexto.
Segundo Lima e Silva (2002), uma programa de exercício físico com atividades aérobias e de resisteência muscular localizada, 4 vezes por semana com seções de 60 minutos para Diabetes melito tipo 2, resulta nos benefícios da melhora da glicemia em jejum e HbA1, diminuição do glicerídeos e aumento do HDL-C.
De acordo com Marins e Guttierres (2008), o ACSM recomenda o TFP duas vezes por semana, 8-10 exercícios envolvendo grupamentos musculares grandes, de no mínimo uma série de 10-15 repetições perto da fadiga. A ADA preconiza que sejam utilizadas cargas leves e alto número de repetições para o aumento da força em todos os pacientes com DM2. O TF com intensidade entre 60 e 100% de 1 RM solicita mudanças estruturais funcionais e metabólicas nos músculos, e maiores intensidades provocam maiores adaptações. TFP tem mostrado melhorar a taxa de eliminação de glicose, aumentar a capacidade de estoque de glicogênio, aumentar receptores GLUT 4 no músculo, aumentar a sensibilidade à insulina e normalizar a tolerância à glicos.
Fontes de Pesquisa / Referencia Bibliográfica
SILVA, Carlos A. da et al. Efeito benéfico do exercício físico no controle metabólico do diabetes mellitus tipo 2 à curto prazo. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 2002.
GUTTIERRES, Ana Paula Muniz; MARINS, João Carlos Bouzas. Os efeitos do treinamento de força sobre os fatores de risco da síndrome metabólica. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 11, p. 147-158, 2008.
Diretrizes do ACSM para os testes do esforço e sua prescrição, American College of Sports Medicine; tradução Dilza Balteiro Pereira de Campos. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2014.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018, Organização José Egídio Paulo de Oliveira, Renan Magalhães Montenegro Junior, Sérgio Vencio. São Paulo: Editora Clannad, 2017.
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