Levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) aponta que, por ano, cerca de 475 milhões de animais morrem vítimas de atropelamento nas rodovias brasileiras – uma morte a cada 15 segundos. Segundo o Biólogo Giuseppe Puorto, membro do CRBio-01 – Conselho Regional de Biologia – 1ª Região (SP, MT e MS), a expansão desenfreada das cidades e, consequentemente, a diminuição das florestas naturais, é a principal causa desse problema.
“As rotas naturais normalmente utilizadas pelos animais acabam sendo interrompidas e, em busca de alimentos, muitos acabam indo para além de seu habitat. Chegam, então, às áreas urbanas e se submetem a esse e outros riscos”, diz o especialista. “Outro problema frequente são as queimadas, que acabam afugentando muitos bichos das matas. Por instinto de sobrevivência, fogem para onde podem”, completa o Biólogo.
Os pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves de menor porte, são as principais vítimas, representando quase 90% das mortes por atropelamento. Animais de médio porte, como gambás e macacos, cerca de 10%. De maior porte, como as onças, antas e lobos, 5%. “Os animais de menor porte, obviamente, são menos resistentes à colisão. Mas, entre os maiores, muitos acabam sendo resgatados com graves ferimentos e, não raramente, se tornam dependentes do homem para sobreviver”, relata o membro o CRBio-01.
No Congresso, um Projeto de Lei (466/2015) que dispõe sobre a adoção de medidas que assegurem a circulação segura de animais silvestres no território nacional está em tramitação. Em outubro do ano passado, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) e o próximo passo é que seja incluído na pauta do Plenário para votação dos parlamentares. Entre outras propostas, o PL prevê a criação de passarelas ou pontes para a travessia dos animais e melhor sinalização nas estradas.
Como evitar o atropelamento
Dados da Polícia Rodoviária Federal também indicam que, em 2017, ocorreram 2,6 mil acidentes envolvendo a presença de animais na pista, sendo 434 graves, com 103 mortes de pessoas (considerando apenas as estradas federais).
Para evitar esse tipo de acidente, a instrutora de trânsito do SEST SENAT São Vicente, Isabel Albino, dá algumas informações importantes sobre o tema. Segundo ela, ao avistar animais na pista, a primeira atitude a se tomar é reduzir a velocidade e jamais buzinar, para não assustá-los. “Pelo mesmo motivo, não se deve ligar o farol alto nessas situações: os animais, quando assustados, podem ter reações inesperadas e tornar o momento ainda mais imprevisível. Eles ainda podem ficar paralisados de susto, congestionando a via”, relata a instrutora.
Isabel Albino lembra que diante de animais de pequeno porte como cachorros, gatos ou pequenos animais silvestres, a tendência natural do motorista é frear ou desviar bruscamente, sobretudo quando se está trafegando em velocidades mais altas. Ela atenta para a necessidade de se olhar pelo retrovisor antes de qualquer manobra, a fim de se certificar de que não vem nenhum carro atrás, pois um movimento inesperado pode ser a causa de um acidente mais grave.
Nos casos de animais de grande porte, é mais seguro passar sempre por trás dos bichos que estiverem atravessados na pista, pois assim é possível diminuir a velocidade de reação do animal. “É importante lembrarmos que bois e vacas não recuam. Já os cavalos podem ter reações inesperadas. Sempre que passar por uma boiada ou um outro agrupamento de animais, o motorista deve seguir em primeira marcha e nunca buzinar. Também é importante seguir com os vidros fechados por motivo de segurança”, reforça a instrutora.
Isabel alerta, ainda, sobre a importância de avisar os outros motoristas nesses casos. “Ao passar por um animal, pisque os faróis para os veículos que vierem no sentido oposto e faça um sinal com a mão para baixo, mostrando quatro dedos. Na ‘linguagem das rodovias’, esse é o aviso de que existem animais na pista. Os dedos representam as quatro patas”.
Outra dica para minimizar o risco de acidentes nesses casos é ligar para a concessionária responsável ou para a Polícia Militar no 190, que acionará a polícia rodoviária e a concessionária responsável pelo trecho. “E, por último, nunca jogue lixo nas rodovias: os restos de alimentos atraem animais para a pista”, completa Isabel.
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