O veganismo foi criado oficialmente em 1944, na Inglaterra. Desde então, a filosofia de vida se espalhou pelo mundo, modificando dietas e relações de consumo. Os adeptos desta vertente vão além dos vegetarianos e não incluem de forma alguma em seus cardápios alimentos de origem animal, da mesma forma como não consomem produtos feitos com peles ou testados em animais.
A decisão pode parecer radical, mas já alcança um percentual considerável de adeptos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, um país famoso pelos fast foods, em 1997, 3% da população já era vegana. No Brasil não existem dados oficiais sobre a quantidade de veganos, mas os vegetarianos já são 8% de toda a população nacional, de acordo com pesquisa do Ibope de 2012 sobre hábitos e consumos dos brasileiros.
O CicloVivo conversou com adeptos do veganismo para mostrar como essa opção é realmente aplicada na prática.
“Maromba” vegana
Há três meses a paulistana Fidalma Bonchristiani decidiu radicalizar a sua dieta. A proteína animal sempre foi essencial em sua alimentação, já que, além de dona de casa, ela é uma atleta que leva a musculação muito a sério. “Sempre acreditei que para construir músculos precisava comer muita proteína animal em todas as refeições. Pesquisando sobre dieta vegana, verifiquei que é possível conseguir construir músculos através de uma dieta apenas com proteína vegetal”, explicou.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a falta de consumo de carne não deixa o organismo mais fraco, desde que a dieta seja balanceada e altamente nutritiva com as opções naturais. “Existem vários atletas que adotam uma dieta vegana e conseguem ter grande desempenho físico. Pois, não é propriamente só o tipo de dieta que se adota, mas, principalmente, a qualidade dos alimentos que se consome que irá refletir diretamente, não só na saúde, como também no equilíbrio do organismo como um todo e na composição física”, explica a nutricionista Jeanne Elizabeth, consultora da FitBox nutrição inteligente.
A especialista ainda esclarece que a dieta restritiva pode interferir no desempenho físico de um atleta a partir do momento em que ele não faça um plano alimentar saudável e balanceado. Portanto, é essencial atentar aos nutrientes de cada alimento e contar com o direcionamento de um profissional.
“Não sinto falta nenhuma de proteína animal e olha que eu comia de 15 a 20 ovos por dia. A proteína vegetal (feijão, lentilha, grão de bico, soja etc) não fica nada atrás das proteínas animais”, comenta Fidalma. Ela ainda explica que hoje sente muito mais prazer nas refeições, se sente mais forte e com muito mais energia e resistência.
Foto: Arquivo pessoal
Outro ponto positivo levantado pela paulistana foi a mudança em sua saúde. “Desde que me conheço, antes dessa dieta, sofria de depressão. Sempre precisei fazer tratamento com remédios controlados e agora não mais”, comemora. A nutricionista Patrícia Villas-Bôas de Andrade, professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis, confirma a relação entre o humor, desânimo e tristeza à alimentação. Segundo ela, frutas e vegetais possuem vitaminas e minerais muito importantes na síntese de neurotransmissores, relacionados ao bom-humor. “A serotonina está ligada à sensação de bem-estar e a dopamina e noradrenalina, ligadas à energia e disposição”, complementa a professora.
De volta às origens do veganismo
O veganismo em sua essência, que perdura há 70 anos, surgiu não apenas como uma dieta, mas sim um estilo de vida repleto de ideais. Organizações veganas classificam quatro principais motivos para a decisão de abolir produtos de origem animal: pelo meio ambiente, pela saúde, pelos animais e pela sociedade.
Esses conceitos foram essenciais para que o funcionário público Rodrigo Majella pulasse de cabeça na filosofia vegana. Ele explica que sofreu certo preconceito de início e que até mesmo a sua esposa achou a decisão radical. A conversa foi o caminho para fazê-la entender os seus motivos. “Expliquei que mudara meus hábitos por preocupação com o meio ambiente, busca de alimentação mais saudável e, sobretudo, compaixão pelas outras espécies, ressaltando que o ser humano pode reduzir drasticamente os efeitos de suas ações sobre a vida de outros seres”, esclareceu.
Foto: Arquivo pessoal
A vontade já existia há anos, mas a decisão e a mudança ocorreram há seis meses, explica o paulistano, que também é mergulhador. Por muito tempo ele foi postergando a ideia, até que chegou a um limite. “Pouco tempo após uma série de mergulhos, fui ao supermercado. Ao ver a banca de peixes – algumas espécies com as quais eu havia nadado, aliás -, tive uma horrível sensação. Depois disso, nunca mais consegui desvincular carne animal da ideia de morte”, comenta.
Alguns amigos também questionaram a decisão de Majella, mas após as explicações, eles começaram a entender melhor esse estilo de vida. “O que percebi é que as pessoas entendem isso, mas simplesmente não querem abrir mão do prazer da comida. Colocam a satisfação do estômago e a estética acima de tudo”, opinou.
Algumas dicas para manter uma alimentação balanceada
A nutricionista Jeanne Elizabeth dá dicas de alimentos que podem ser incluídos na dieta para suprir a ausência dos nutrientes obtidos normalmente em alimentos de origem animal. Segundo ela, é possível ter uma alimentação saudável, com refeições ricas em:
– Cereais e grãos integrais, como: amaranto, quinoa, arroz e massas integrais, pães, bolos biscoitos integrais enriquecidos e farelos.
– Legumes e verduras variados.
– Frutas in natura e secas, sucos de frutas.
– Frutas oleaginosas.
– Leguminosas (feijões em geral, lentilha e soja).
-Leite de soja e leite de vegetais enriquecidos, tofu, carne de soja, cogumelos.
Esses são apenas alguns exemplos, se você se interessou pelo assunto e deseja conhecer mais sobre o veganismo, acesse os links abaixo:
Vegan Society (em inglês)
Vegan Action (em inglês)
Por Thaís Teisen – Redação CicloVivo