Tecnologia

Qualcomm apresenta soluções para cidades inteligentes, 5G e avisa: é melhor esperar para trocar de PC

Quando você pensa em “Qualcomm”, é natural que a primeira coisa que venha à cabeça seja “processadores para celular”. Convenhamos, a linha Snapdragon é uma das líderes desta seara, mas a empresa norte-americana quer abrir seu reconhecimento para outras percepções, adotando uma postura mais abrangente ao oferecer também diversas soluções de serviço continuado.

O TecMasters teve a oportunidade de conhecer de perto algumas dessas novidades, que vão desde ampliações do espectro 5G, dispositivos e tecnologias para mobilidade, realidade expandida e cidades inteligentes e, pasme, inteligência artificial generativa sem depender da internet.

Expandir conectividade (para todo canto)

A ocasião inteira se concentrou nas ofertas da Qualcomm para a expansão da internet em todos os seus espectros: de totens com testes do WiFi 7 a diversas soluções 5G que vão muito além da conexão via smartphone, a ideia da americana – nas palavras de Luiz Tonisi, presidente da empresa para a América Latina – é desvincular a noção da Qualcomm como “empresa do ramo de celulares” e aproximá-la da ideia de uma marca com portfólio completo.

“Apresentamos muita coisa voltada para o setor FWA, com contratos firmados com as operadoras do país para oferecer planos de 200 a 400 GB e operação de internet em regiões mais remotas”, explicou o executivo. “Para nós que moramos em São Paulo, é fácil pensarmos em conexão a todo o tempo, mas imagine escolas primárias com três ou quatro salas, sem computadores. É nisso que nossas soluções almejam chegar.”

“FWA”, para os não iniciados, é a sigla em inglês para “Acesso sem Fio de Ponto Fixo”. Trata-se de uma tecnologia sem fio de conexão 4G ou, neste caso, 5G, que permite o acesso à internet por meio de frequências de rádio ao invés de cabos. Na prática, imagine a internet que você tem em casa, mas ao invés de um cabo de rede, você se conecta a ele como faz com seu celular.

A ideia é justamente oferecer esse tipo de conexão sem precisar necessariamente passar pelo processo de adaptação de estrutura do local. Convenhamos, instalar a fibra ótica em uma região depende da disponibilidade da área, das conversas e licitações de zoneamento para passagem dos cabos, da aquisição do serviço pela operadora, e só então chegamos na parte do consumidor que assina a plataforma.

“Um FWA ainda requer essas conversas, mas de forma a habilitar o uso da tecnologia que já existe, de uma forma mais simplificada”, disse Tonisi. “Eu não acho que um FWA seja uma ‘bala de prata’ – a solução para todos os problemas. Ele está mais para ‘mais uma via’ a ser explorada para levarmos a conectividade onde ela normalmente não chega”.

O executivo chegou a mencionar as operadoras TIM e Claro entre as empresas participantes da oferta, mas ressaltou que é impossível afirmar algo tão exato pois cada região no país tem um controle maior por essa ou aquela operadora – em outras palavras: para levar-se um FWA, digamos, a Porto Alegre, a TIM comandaria os esforços de oferta, ao passo em que a Vivo é mais evidente na cobertura do Acre, por ter maior abrangência lá.

Internet das Coisas ainda é um assunto quente para a Qualcomm

O conceito de “IoT” meio que esfriou ao longo dos anos desde o seu grande ápice entre meados de 2010 e 2017. Conversas como “sensores”, “monitoramento ativo”, “fábricas inteligentes” foram aos poucos diminuindo mas, segundo a Qualcomm, nunca foram esquecidas.

Durante o seu summit, a empresa trouxe várias soluções alavancadas por seus inúmeros parceiros: a mais notável foi a chegada do cão robô Spot – aquele “amarelão” da Boston Dynamics que já dançou com Mick Jagger. O dispositivo – se é que podemos chamá-lo assim – conta com tecnologia da Qualcomm e chega ao Brasil por meio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que o instalou em áreas de monitoramento e, quando possível, auxílio físico.

Duas dessas áreas de destaque mencionadas no evento incluem o Centro de Pesquisas Desenvolvimento e Inovação da Petrobras (por onde o Spot passará por uma fase de testes) e o PDI (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná.

E sim, conforme você deve ter visto no nosso Instagram, o Spot “deu um rolê” pelo evento (e arrancou um susto ou dois de certas pessoas):

Outro ponto interessante é a experimentação da tecnologia FWA em instalações externas, como lâmpadas de iluminação pública. Em Copacabana (Rio de Janeiro), a Qualcomm vem testando um projeto piloto que viu quatro dessas luminárias inteligentes figurarem pela área – todas com câmeras de reconhecimento, inteligência artificial e outras benesses.

Segundo Fiore Mangone, diretor de estratégia e desenvolvimento de novos negócios da empresa, cerca de 150 municípios brasileiros já contam com testes similares e a expectativa é a de que o projeto seja adotado em caráter oficial pelas respectivas prefeituras: “os testes vêm sendo aplicados de forma gradual, ou seja, estão aos poucos aumentando e ampliando seus escopos em mais áreas, então acreditamos que os prospectos são bem favoráveis”, disse Mangone.

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Segurança pública com alta tecnologia

Sabe-se que falar na implementação de inteligência artificial na segurança pública é algo bem nebuloso e ainda bastante debatido: temos aí a Amazon e as ofertas problemáticas de reconhecimento facial nos EUA para servir de exemplo.

A Qualcomm, contudo, acredita na aplicação desse recurso de outra forma: junto de uma empresa parceira, a empresa está começando a desenvolver uma tecnologia de monitoramento ativo de passageiros dentro de ônibus e veículos de transporte público.

Calma – não é “do passageiro” em si, mas sim de ações possivelmente tomadas por eles. A ideia é implementar um sistema que seja capaz, por exemplo, de capturar em câmera uma arma de fogo ou outro objeto potencialmente perigoso, reconhecê-lo como tal e, assim, alertar quem deve ser alertado. Novamente, tudo isso contando com a capacidade da conexão 5G dos dispositivos da Qualcomm.

Consumidor final não foi esquecido

Por fim, muitos produtos exibidos no evento mostraram que a Qualcomm ainda valoriza a sua presença na vida do consumidor final. Seja por smartphones, headsets VR ou oferta de internet, a empresa tem toda uma sorte de soluções ainda a chegar no mercado. A má notícia: elas vão aparecer “eventualmente” e, se há qualquer previsão além de “ano que vem, talvez”, a Qualcomm não confirmou com a gente.

Um detalhe interessante: noticiamos recentemente sobre uma possível alteração de configuração na arquitetura dos processadores Snapdragon 8 a partir da terceira geração. A Qualcomm “meio que” confirmou isso, dando a entender que a ideia por trás da medida é expandir a oferta da linha de processadores para algo além dos celulares.

Tonisi não afirmou nada expressamente, mas deu a entender que essas mudanças não precisam ser especificamente sobre o novo processador (que deve ser formalmente anunciado em outubro), mas que isso permitirá que a Qualcomm ofereça soluções de processamento avançadas o suficiente – baseadas em ARM – para competir com a linha M da Apple, por exemplo. “Então se você está pensando em trocar de PC, talvez seja melhor você esperar um pouco”, disse o presidente.

No que tange a produtos, foi revelado o primeiro mini PC para o mercado brasileiro baseado no processador Snapdragon 7c+ Gen 3, com conexão 5G embarcada. Segundo a fabricante parceira, o diminuto computador – que facilmente cabe dentro da minha mão – deve ser oferecido para ambientes corporativos voltados à exibições publicitárias e empresas que trabalham no ramo do IoT.

Qualcomm apresenta soluções para cidades inteligentes, 5G e avisa: é melhor esperar para trocar de PC

Além disso, a Qualcomm está pesquisando um aplicativo de inteligência artificial generativa local, sem depender da conexão com a internet, para a geração de imagens a partir de prompts de texto. Segundo a empresa, o projeto – ainda em testes – deve fornecer imagens exclusivas, o que deve acalmar os debates relacionados à autoria de imagens feitas por IA.

O app em questão ainda não tem um nome próprio, mas deve ser oferecido eventualmente em caráter simplificado – ou seja, você será capaz de baixá-lo na sua loja favorita de aplicativos (a Qualcomm mencionou o Android e o Windows, sugerindo um uso multiplataforma entre celulares e PCs).

A ideia de algo “local” parece ser o carro-chefe aqui: ao contrário do Midjourney, por exemplo, a proposta da empresa americana é usar o armazenamento do próprio celular para reunir os parâmetros de criação de sua IA – sem entrar em números específicos, Mangone disse que ele é “praticamente uma Alexa rodando dentro do seu smartphone”.


Créditos: TecMasters