Tecnologia

Entrevista: 30 minutos com Bryan Kester, Head of IoT da Autodesk


[ZTOP na Autodesk 2016] Como a Internet das Coisas e o Fusion Connect ajudarão a indústria a criar produtos e serviços cada vez melhores, conectados e mais inteligentes.

Depois da demonstração de VR na sede da Autodesk em San Francisco, a próxima parada do nosso tour foi um bate papo com Bryan Kester, exceutivo responsável pelos produtos e serviços de IoT (Internet das Coisas) da empresa.

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Antes disso ele foi o CEO da SeeControl, empresa adquirida pela Autodesk em agosto do ano passado e cuja tecnologia de IoT foi integrada à suíte de serviços na nuvem da casa, conhecida como Fusion… 

… onde recebeu o nome Fusion Connect cuja função é de facilitar a conexão, análise e o gerenciamento de produtos remotos e outras coisinhas beem interessantes, como veremos adiante:

Kester explicou que — o que o Fusion Connect faz — é permitir que pessoas que não sabem programar, criem aplicações web bem poderosas a partir de dados de IoT. E para isso eles contam com o suporte de uma imensa biblioteca de tecnologias que permitem ao Connect coletar dados vindos de todos os tipos de dispositivos, de modo que que seus clientes precisam simplesmente direcionar os dados gerados por seus dispositivos para o Fusion Connect na nuvem que ele analisa os mesmos por meio de ferramentas visuais e apresenta os resultados na tela ou em até outros tipo de visualizações incluindo modelos bi e tridimensionais:

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Essa filosofia por sinal lembra muito a usada pela Salesforce.com (por sinal a vizinha da Autodesk no prédio) que foi muito bem sucedida na sua estratégia de permitir que não progradores possam criar aplicações de vendas, call center, etc. com sua tecnologia por um custo baixo.

De fato nossos clientes podem fazer a mesma coisa — disse Kester — ou seja, desenvolver qualquer tipo de aplicação, como por exemplo um sistema para monitorar atletas olímpicos por meio de geolocalização, programar treinos, etc. de uma maneira simples, rápida e barata, comentou o executivo.

Seu público inicial — é claro — são aquelas empresas parceiras que já utilizam produtos da Autodesk, em especial aquelas que costumam criar novas tendências no seu segmento de mercado. Um bom exemplo é a Premium Deicers empresa especializada que fabrica caminhões que removem gelo das asas de aviões nos aeroportos.

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Kester explicou que um certo dia, essa empresa recebeu o pedido de um cliente interessado num equipamento capaz de trabalhar mais rápido e que reportasse imediatamente o seu consumo de fluído descongelante usado para realizar cada serviço.

Ai o que eles fizeram foi colocar no seu caminhão, um dispositivo inteligente que registrava o quanto foi gasto de fluido em cada aeronave e o tempo gasto para deixá-lo pronto para decolar — e venderam isso para a companhia aérea como um serviço — ou seja, eles vendiam o veículo para a companhia e ainda recebiam um extra de US$ 5.200 por mês por este “serviço de IoT na nuvem” que monitorava toda a operação.

E isso é no geral quase 90% do nosso serviço — explicou o executivo —  ajudar nossos cliente a criarem esse tipo de serviço que, por sua vez, serão vendidos para seus clientes.

O mesmo pode ser dito de outra empresa que fabricava equipamentos industriais para bombeamento de água e que agora também vendem estações de monitoramento de água, cuja solução incluem sensores que transmitem seus dados de desempenho (quantidade de água bombeada, alertas de interrupção, etc.) de volta via rede de telefonia celular de volta para a empresa, que também vende isso como um serviço.

E isso sem falar das fábricas que também podem monitorar seus processos de manufatura, o que inclui o consumo de matéria-prima, energia elétrica ou combustível, etc. De fato, muitas empresas que produzem equipamentos de produção estão transicionando seu modelo de negócios, de modo que ao invés de vender uma máquina, eles passaram a alugar para uma empresa e, junto com elas, a supervisão das mesmas na forma de  serviço.

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Sob esse ponto de vista, a Autodesk junto com a tecnologia de IoT está ajudando a indústria a migrar para um mundo onde eles não precisam mais “vender realmente algo” e sim vender uma assinatura do mesmo. Algo parecido com um leasing de carro, ou seja, ter um meio de aquirir um bem caro de uma maneira mais acessível (pelo menos para os americanos, é claro.)

E do jeito que as coisas vão, as pessoas poderão usar IoT para tornar seus produtos em algo que pode ser apenas distribuído como serviço. Um exemplo extremo de IoT é o Uber que transformou um produto físico numa “corrida”, ou seja, você compra uma corrida e toda vez que você fizer isso, ajuda a financiar aquela compra, apesar de que o Uber não possuir o carros.

Assim tanto o Uber quanto a Tesla Motors talvez sejam os exemplos mais extremos de empresas disruptivas que utilizaram o poder do IoT para reinventar completamente sua indústria. Tesla está construindo toda a nova geração de seus carros baseados nos feedbacks vindos dos seus veículos que estão nas ruas.

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Sob o ponto de vista do produto, você pode comprar o carro ou fazer um leasing dele e, se quiser melhorar algo nele — como seu desempenho — você pode ir no site da empresa e encomendar “mais velocidade”. Ai a eompanhia envia um novo software para o seu carro (usando tecnologia de IoT) e faz o mesmo correr mais.

E esses são apenas alguns dos cenários de possibilidades que estamos viabilizando para o mercado — disse Kester — permitindo assim que as pessoas criem produtos que informem o seu desempenho à todo momento e que podem receber novas funcionalidades e recursos a todo momento, fechando assim o ciclo do seu desenho/projeto. Isso porque na próxima vez que você for desenhar algo novo, você terá todos os dados históricos de como o o desenho antigo se comportou.

Além disso, você ainda terá todo o feedback dos seus clientes de como eles realmente usaram o seu produto. Tradicionalmente quando alguém cria um novo produto, você o entrega para o cliente e você nunca vai vê-los novamente, a não ser que você corra atrás deles para obter feedbacks e fazer algumas pesquisas.

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Kester explica que no mundo do IoT nós estamos abrindo as comportas de uma enxurrada de informações que as pessoas podem fazer uma analise de como o mundo realmente utiliza seus produtos. E uma vez que esses dados são interpretados, existem tantas coisas diferentes que você pode fazer com os resultados.

De fato, essas idéias não são exatamente novas — mas o custo disso é — já que se você olhar para esse cenário e consegue colocar um módulo de processamento dentro de um produto por uns US$ 39 (e adicionar uma interface Wi-Fi por mais uns US$ 20) isso é um computador completo com capacidade de comunicação que custava quatro vezes mais do que isso a dois anos atrás. E se você olhar para daqui a uns dois anos esse mesmo sistema pode custar a metade ou até menos disso!

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Isso significa que, nos dias de hoje, você pode implementar inteligência e conectividade em praticamente qualquer coisa.

E se você olhar para a Autodesk estamos realmente fazendo três coisas agora: Nós sempre ajudamos as pessoas a projetarem coisas e é essa a imagem que a maioria do público tem da nossa empresa. Já uma faceta menos conhecida é que estamos ajudando as pessoas a realmente fazerem coisas, sendo o exemplo mais óbvio disso é a impressão em 3D

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… mas também existe a produção computadorizada onde as máquinas são comandadas através de softwares da Autodesk…

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… e finalmente temos uma categoria de softwares chamada PLM (Product Lifecicle Management) que ajuda o gerente de produtos a administrar todos os aspectos e negociações ligadas ao processo de como fazer um produto. Sendo que a grande sacada do programa da Autodesk é que ela também gerencia o chamado BOM (Bill of Materials) já que quando você constrói um produto, também tem algumas centenas de coisas que você precisa comprar para produzi-lo.

Assim sabemos como o como desenhar (= Design) e como produzir (= Make) mas existe uma coisa que falta nesta visão geral é como eu uso este produto (= use) e é ai que se encaixa a estratégia de IoT da Autodesk, conclui o executivo.

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De fato Kester ressalta que a parte de IoT é uma das mais importantes desta estratégia já que ela ajuda as outras duas.

Asim se você estiver projetando algo novo na sua ferramenta de desenho, o que a Autodesk vai fazer é orientá-lo sobre a melhor tecnologia de IoT a ser adotada levando em consideração limitações como espaço, capacidade de processamento, comunicação, tipo e fonte de energia, etc. — ou seja — mesmo nos primeiros passos do novo desenho, o IoT estará lá.

E ai quando o produto for construído e entrar na fase de protótipo e for para os testes de campo, seus sensores irão gerar dados de desempenho que serão analisados para corrigir as falhas percebidas, de modo que algumas decisões serão tomadas a partir dessas informações.

Essa estratégia é particularmente interessante em produtos cujo ciclo de vida é curtíssimo — já que com o IoT você consegue feedbacks de desempenho de maneira mais rápida sobre o que está bom e o nem tanto no produto de linha — o que permite melhorar a nova geração e colocá-lo no mercado meses antes dos concorrentes.

E para os produtos com ciclo de vida longo, essa estratégia pode ser ainda melhor, já que produtos deste tipo — como máquinas industriais que podem funcionar por uns 20 anos — poderão ser reformadas umas sete ou oito vezes durante sua vida útil.

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Com os recursos de IoT é possível por exemplo, determinar o momento exato em que uma máquina dessas vai realmente precisar de uma reforma (reduzindo assim manutenções desnecessárias) e isso também poderia ser vendido para o cliente na forma de serviço.

De fato, a análise dos dados podem fornecer argumentos suficientes até para convencer o cliente que está hora de comprar uma máquina nova.

Assim não existe literalmente nada físico no processo de desenvolvimento e uso de um produto que não possa ser transformado de alguma maneira pela tecnologia de IoT que dá para o mesmo a capacidade dele dizer o que está acontecendo com ele.

E a Autodesk está na vanguarda dessa revolução tecnológica o que não é algo comum de se ver numa empresa, ou seja, entrar em um mercado realmente inovador e que pode ser o núcleo da estratégia da empresa para as próximas décadas — concluiu o executivo.

De fato, a base de conhecimento criado pelas suas iniciativas de IoT irão alimentar outra revolução ainda mais impressionante que está em andamento dentro da Autodesk — o chamado Generative Design (ou máquinas que desenham máquinas) — que será o tema do próximo post dessa série.

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Fiquem ligados!

Disclaimer: Mario Nagano visitou o The Landmark @ One Market a convite da Autodesk, mas as opiniões e fotos bacanas são dele.

 

Entrevista: 30 minutos com Bryan Kester, Head of IoT da Autodesk foi publicado no ZTOP+ZUMO.


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