A terça-feira (26) foi tensa na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O PL 31 ou PL dos Bois, como ficou conhecido, sacudiu o plenário. Mais de 300 ativistas, incluindo caravana de Santos e de Atibaia, lotaram a Alesp com muitas faixas e cartazes aguardando a votação do PL do deputado estadual Feliciano Filho (PRP), que proíbe a exportação de animais vivos. O corredor principal da Alesp chegou a ficar intransitável.
Uma vez no plenário, notou-se que havia maioria favorável dos deputados e o calor da plateia, aplaudindo freneticamente cada apoio, indicava uma aprovação ao PL 31 naquela noite. No entanto, alguns deputados contrários se revezaram no palanque com longos discursos a fim de ocupar todo o tempo disponível para a votação cujo prazo se encerrava as 21h30. Em protesto, os ativistas começaram a dar as costas para os deputados dispostos a derrubar a votação.
Por fim, o tempo se esgotou. Inconformados, os ativistas continuaram gritando palavras de ordem e insistindo na votação, mas os trabalhos foram encerrados ao sabor amargo da frustração e da indignação. Deputados que haviam garantido voto a favor do PL armaram um covarde jogo de “enrolação” se unindo a outros que já haviam se declarado contra.
A grande movimentação no dia 26 se deu por conta do anúncio de Cauê Macris, presidente da Alesp que, no dia 19, comprometeu-se pessoalmente com 40 ativistas no sentido de colocar o PL 31 na pauta. Desde então os ativistas passaram a abordar os deputados percorrendo os gabinetes e também pelas redes sociais para conseguir número suficiente de votos a favor do PL dos Bois.
Já na manhã da terça, inúmeras ONGs e protetores independentes ocuparam a Alesp. Nina Rosa, Sônia Fonseca e Luisa Mell, ícones da proteção animal, também passaram o dia e a noite na Assembleia. “Viemos pelos animais, ficamos até de noite pelos animais e ficaremos quanto tempo for necessário por eles”, disse Nina Rosa.
“Estamos aqui para mostrar nosso comprometimento com a causa. Esse tema do embarque de animais vivos é muito importante para nós”, comentou Sônia Fonseca, presidente do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. “Quando a sociedade muda, o país também muda. Por isso é fundamental estarmos aqui falando pelos animais”, argumentou Luisa Mell.
Leila Abreu, coordenadora da Codevida de Santos e que, aliás, entrou no navio NADA em fevereiro registrando o horror que se passava lá dentro, salientou: “viemos de Santos em 12 pessoas porque a gente acredita que se trata de um momento histórico no ativismo. São Paulo pode ser o primeiro estado do mundo a proibir os embarques”.
Marcaram presença no evento ainda ONGs como Cão Sem Dono, VEDDAS, Bendita Adoção, Apasfa, Cadeia para Quem Maltrata Animais (RIO), Move Institute, Animal Equality, Direct Action Everywhere, entre outras, além de inúmeros protetores independentes de diversas cidades e até de outros estados. A ANDA também marcou presença por meio da fundadora do portal, Silvana Andrade.
Ao final, o deputado Feliciano Filho agradeceu os ativistas: “o trabalho de vocês foi primoroso. Realmente vocês deram um show. Infelizmente alguns deputados foram covardes. Eles disseram aos ativistas que eram a favor do PL 31, mas depois usaram todo o tempo para impedir a votação. Só que não vamos desistir”. O deputado disse ainda que continuará trabalhando para o PL ser votado e que os ativistas podem ir se preparando para mais uma luta.
Câmara de Suzano (SP) aprova moção de apoio ao PL
A Câmara Municipal de Suzano, no interior de São Paulo, aprovou, por 16 votos, uma moção de apoio aos ativistas que lutam contra a exportação de animais vivos e ao projeto que visa proibir as operações de embarque de animais nos portos do estado de São Paulo.
Antes da votação da moção de apoio, o deputado Lisandro Frederico (PSD) defendeu a aprovação do PL. “Eu não pude estar aí com vocês, junto com os ativistas para apoiar o PL que acaba com a exportação de animais nos portos, mas aqui na Câmara de Suzano a gente vota agora uma moção de apoio a todos vocês ativistas, ao projeto”, afirmou.
A deputada estadual Beth Sahão também se posicionou favorável ao projeto. Antes do início da sessão na Assembleia Legislativa, ela publicou um vídeo em rede social para reafirmar a posição contrária à exportação de animais vivos. “Esses animais sofrem, inclusive maus-tratos, porque são condições muito ruins que isso ocorre. A sociedade tem que evoluir, e uma das evoluções que a gente espera que uma sociedade tenha é exatamente na proteção, nos cuidados, no respeito que se tem para com os nossos animais. Portanto, somos favoráveis ao projeto de lei, que vai ser apreciado aqui na Assembleia Legislativa, e vamos votar a favor desse projeto, contra qualquer maus-tratos em relação aos nossos animais. Contem comigo”, disse.
Após deputados agirem para impedir a votação do projeto, Beth Sahão novamente se posicionou através do Facebook. “Terminamos a noite, infelizmente, de forma melancólica, nós que estamos aqui, toda a bancada do partido dos trabalhadores, prontos para votar favoravelmente ao PL 31 que protege os animais, que impede o transporte de animais da forma como vem sendo transportados, em navios, confinados, com maus-tratos e com crueldade. Nós não queremos mais que isso aconteça com os nossos animais. Infelizmente, o governo, mais uma vez, em uma manobra, acabou colocando a sua base para discutir, o tempo acabou e o projeto não foi aprovado. Mas quero dizer para você, que quer proteger animais, que quer leis modernas e seguras para os animais, que continue contando conosco, estamos atentos, não vamos desistir, e vamos continuar na luta, pessoal”, finalizou.
RS quer fim da exportação de bois vivos
Além dos ativistas e entidades, que lutam contra a exportação de bois vivos por entender que se trata de uma prática extremamente cruel que condena os animais a extremo sofrimento, o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs) também se posicionou contra a exportação.
De acordo com o diretor executivo do Sicadergs, Zilmar Moussalle, as exportação de bois vivos, feita em navios através dos portos, é prejudicial para o mercado de trabalho brasileiro e para a indústria.
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