A World Animal Protection (Proteção Animal Mundial) solicita aos países membros da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) que se comprometam e garantam que até 2025 todas as redes estejam identificadas e marcadas. A medida tem como intuito reduzir o número de animais marinhos mortos pelo abandono destes equipamentos nos oceanos, prática conhecida como pesca fantasma.
Com a marcação, as agências de controle conseguirão realizar fiscalizações mais eficientes e estabelecer punições às empresas e aos pescadores que não mudarem suas operações. Estima-se que 5 a 30% do declínio de algumas espécies marinhas pode ser atribuído aos petrechos fantasma, e esse número tende a aumentar se nada for feito.
“A pesca fantasma é uma situação muito agressiva à vida marinha – mesmo quando comparada aos impactos de outros tipos de lixo marinho. Estudos apontam que, mesmo considerando todas as outras formas de detritos, a atividade impacta cerca de quatro vezes mais a vida nos oceanos em função do emaranhamento causado aos animais”, explica João Almeida, gerente da campanha Sea Change da World Animal Protection no Brasil.
Perigos da pesca fantasma
Espécies importantes da fauna brasileira, como baleia-jubarte, baleia franca austral, golfinhos e tartarugas, são capturadas de forma fantasma. 80% das mortes de tartarugas marinhas no Brasil, por exemplo, são ocasionadas por essa fatalidade. Os animais sofrem com uma morte prolongada e dolorosa, geralmente ocasionada por sufocamento ou fome. Sete em cada dez (71%) animais capturados por esses petrechos acabam morrendo nos oceanos.
Além do intenso sofrimento animal, estes equipamentos fantasmas geram alto impacto ambiental pela demora em sua decomposição, de até 600 anos – no geral são feitos de plástico –, agravando a poluição nos oceanos.
A cada ano, cerca de 640 mil toneladas de equipamentos fantasma são deixadas nos oceanos. Algumas redes perdidas são maiores que os campos de futebol. “Consideramos essa medida um grande passo para minimizar os impactos causados pela pesca fantasma. Atualmente não existem mecanismos eficazes para identificar o proprietário das redes perdidas ou abandonadas – o que torna mais difícil a fiscalização e a punição das empresas e pescadores que praticam operações ilegais”, declara João Almeida.
Pesca fantasma e a World Animal Protection
- Relatos mostram que mais de 817 espécies marinhas são afetadas por lixo.
- O equipamento fantasma eventualmente se decompõe em microplástico e pode entrar no corpo humano por meio dos peixes consumidos na alimentação.
- 45% de todos os mamíferos marinhos da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas foram impactados por petrechos de pesca perdidos ou abandonados e até 92% dos encontros de animais marinhos / detritos envolvem detritos de plástico.
- Em 2015, a World Animal Protection estabeleceu a Iniciativa Global Ghost Gear (GGGI) – uma aliança intersetorial comprometida em gerar soluções para o problema das artes de pesca perdidas e abandonadas em todo o mundo. O GGGI visa melhorar a saúde dos ecossistemas marinhos, proteger os animais marinhos e salvaguardar a saúde humana e os meios de subsistência.
- A pesca ilegal, sem registro e sem regulamentação (IUU na sigla em inglês) esgota os estoques de peixes, destrói os habitats marinhos, distorce a competição, coloca os pescadores honestos em desvantagem e enfraquece as comunidades costeiras, principalmente nos países em desenvolvimento.
- O equipamento fantasma contribui significativamente para o problema dos plásticos nos mares (poluição marinha), gerando impactos ao ecossistema e à biodiversidade, com reflexos, por exemplo, sobre os estoques e o bem-estar dos peixes.
- A marcação das artes de pesca contribuirá com o rastreamento dos equipamentos com maior taxa de perda, auxiliando na localização e remoção desses materiais.