Deixar o dinheiro aplicado em vez de pagar no ato pode parecer um bom negócio, mas você perderá dinheiro se escolher essa opção
por Michelle Ferreira
Para fazer um bom negócio na hora de comprar ou trocar de carro é preciso colocar em prática dois conceitos importantes: razão e (muita) pesquisa. O investimento é alto e há diversos cenários que podem fazer com que você se arrependa no futuro. Se chegou a sua hora de comprar um veículo, seja por necessidade ou por desejo, saiba que existe uma regra inquestionável: dê a maior entrada possível. Parece óbvio, mas a falsa segurança de deixar dinheiro no banco e ainda ter um carro na garagem pode levar você ao erro. Ficou com dúvida? Vamos aos motivos.
Quanto maior a entrada, maior o desconto e menor a taxa de juros
Hoje em dia, são raras as montadoras que não oferecem nenhum tipo de desconto na compra à vista. A redução vai de 3% a 10% do valor total do carro. A regra é simples: quanto maior a entrada, menor a taxa de juros e maior o desconto. Autoesporte simulou a compra à vista da versão de entrada do Hyundai ix35. Na tabela, o carro é oferecido por R$ 99.990, mas sai por R$ 96 mil no ato – um desconto de 4%.
Leve em conta o custo efetivo total (CET)
Ao negociar um veículo, muitas pessoas só levam em conta os juros do banco, sem impostos e taxas. Esse valor hoje parte de 1,4% (para bancos de montadoras) e pode chegar a 4% em casos extremos. Vale dizer que esses números só são aplicados para veículos 0 km. O problema aparece na hora de fechar a compra para valer – com taxas e impostos, os juros negociados aumentam. Dou um exemplo: Joana comprou um carro de R$ 72.500 e deu R$ 32 mil de entrada. O resto da quantia será financiado em 48 vezes com juros de 1,45%. Com as taxas e os impostos do financiamento, os juros pulam para 1,67%. O valor da parcela, que ficaria em R$ 1.177,03 vai a R$ 1.233,29. A diferença parece pouca? O aumento representa R$ 2.700,75 ao final de quatro anos.
Compare o CET com a taxa de rentabilidade que você consegue em um investimento
O custo efetivo total (juros + custo do financiamento) é sempre maior que a taxa de rentabilidade que se consegue em um investimento. Basta comparar os dois valores para descobrir que pagar à vista é sempre mais vantajoso. “Hoje, a poupança paga 0,5%. Se investir bem o dinheiro, dá 0,8% ao mês (já descontados impostos e taxas) – não tem aplicação que renda mais que isso. Financiar o carro em vez de pagar à vista só faria sentido se você tivesse juro menor que 0,8% ao mês, que também não existe”, diz Samy Dana, professor da FGV.
E se eu não tenho disciplina para guardar dinheiro?
Se você tem dificuldade para poupar dinheiro, a dica é simples: “Hoje, os bancos têm sistemas que tiram o dinheiro da sua conta e investem para você. Quem não tem disciplina para guardar dinheiro, também não terá para pagar a parcela – vai ficar inadimplente. A pessoa tem de criar métodos para juntar”, afirma Samy.
Vamos supor que Joana tivesse o dinheiro total do carro à vista. Sem levar em conta possíveis descontos, ela teria se livrado de todas as taxas (como IOF e taxa de cadastro) e teria dado R$ 72.500 no ato. Como escolheu financiar, Joana pagará R$ 91.198,06 pelo veículo no total. Se tivesse quitado o carro e depositado o valor da parcela (R$ 1.233) em um investimento com renda de 0,8% ao mês, teria juntado ao fim de quatro anos R$ 71.824,52. Como Joana decidiu dar “só” R$ 32 mil de entrada e deixar R$ 40.500 na aplicação, ficou, ao fim de quatro anos, com R$ 59.369,11. Ou seja, ela deixou de ganhar R$ 12.455,41 por ter optado financiar o carro. O que concluímos disso: “Se você tem o dinheiro e é capaz de comprar o carro à vista, a melhor escolha é pagar prestação para si mesmo”, afirma Myrian Lund, professora da FGV.
Vamos fazer as contas? Confira alguns exemplos:
Chevrolet Onix: carro de R$ 50 mil
A prazo
Entrada de R$ 27.931,03 e 48 parcelas de R$ 850,55. Juro mensal do financiamento 1,67 %.
Custo total do Carro: R$ 62.895,22.
R$ 50.000 – entrada = R$ 22.068,97 (valor investido em aplicação com rendimento de 0,8% mensais).
Carro + R$ 40.944,22 (Patrimônio total após 48 meses).
À vista
Pago no ato: R$ 50 mil.
R$ 850,55 (quantia aplicada por mês em um rendimento de 0,8% a.m).
Carro + R$ 49.534,15 (Patrimônio total após 48 meses).
Veredito: O proprietário desse Chevrolet Onix terá deixado de ganhar R$ 8.589,94 se tivesse escolhido a compra a prazo.
Jeep Compass: Carro de R$ 80 mil
A prazo
Entrada de R$ 35.310,34 e 48 parcelas de R$ 1.360,87. Juro mensal do financiamento 1,67%.
Custo Total do Carro: R$ 100.632,34.
R$ 80 mil + entrada = R$ 44.689,66 (Valor investido em aplicação com rendimento de 0,8% mensais.
Carro + R$ 65.510,75 (Patrimônio total após 48 meses).
À vista
Pago no ato: R$ 80 mil.
R$ 1.360,87 (Quantia aplicadoa por mês em um rendimento de 0,8% a.m).
Carro + R$ 79.254,64 (Patrimônio total após 48 meses).
Veredito: Se o dono desse Jeep Compass escolhesse pagar o veículo à vista pouparia R$ 13.743,90 ao final de 48 meses.
Taxas: IOF: 0,38; IOF 3% ao ano; Gravame; Taxa de cadastro; Seguro proteção; Financeira (SPF).
Fonte: AutoEsporte
Créditos : Autos24h