Negócios

Prazer no trabalho – Uma questão de intimidade com as pessoas e com os resultados

Autor: Paulo Cesar Silveira (falecom@paulosilveira.com.br)

Há décadas busca-se significado na palavra trabalho. O trabalho dignifica, constrói, fortalece e perpetua o homem em seus ideais.

Sempre pergunto em minhas palestras e treinamentos:

– Quantos de vocês amam trabalhar? E vejo muitas mãos erguidas. – Agora quantos de vocês gostam de ficar em lazer? E um número ainda maior de mãos se ergue euforicamente.

Em seguida pergunto: vocês têm o mesmo prazer do lazer em seus trabalhos? A resposta é quase unânime: “É claro que não professor. Se pudesse eu não trabalharia, ficaria somente em lazer, e em tempo integral”.

Concluo então que a conta não fecha! E começo a perceber porque existem tão poucas pessoas felizes em seus trabalhos e com resultados profissionais e de vida realmente expressivos. As pessoas em sua maioria não têm intimidade e prazer algum no que fazem.

A intimidade encontra-se no âmago¹ da competência. Tem a ver com compreensão, com a convicção e com a prática de fazer e entregar seu trabalho com absoluta excelência. Tem a ver com o trabalho de cada um entregue em benefício de todos.

A propósito: Você tem intimidade com o seu trabalho?

Pois a intimidade com o trabalho conduz a uma competência sólida no sentido pessoal, operacional,estratégica e é diretamente relacionada ao prazer no trabalho e seus resultados obtidos.

Exercer funções de fiscal de departamento no chão de fábrica ou em uma oficina de manufatura é fundamentalmente diferente de promover seminários sobre o assunto. A intimidade com um trabalho leva-nos a compreender que, quando pessoas treinadas executam uma tarefa, precisamos ensinar não só a técnica, mas também a arte da mesma. E a arte tem sempre a ver com a personalidade do operador e como ele traz “vida” à máquina.

A intimidade é a experiência da propriedade, que deriva com frequência da dificuldade, dúvida, exasperação² ou mesmo necessidade de sobrevivência.

As convicções estão ligadas a intimidade. Figuram antes das normas, padrões ou mesmo práticas. A prática sem convicção constitui de uma existência sem esperança. Os administradores que não têm convicções e apenas entendem a metodologia e quantificação, são os eunucos3 da era moderna. Nunca podem incutir competência ou confiança… Nunca têm prazer no trabalho e jamais serão verdadeiramente íntimos com seus ambientes e vocações.

Preocupo-me com as intimidades funcionais, pessoais e tecnológicas, sempre! Temos que nos preocupar com elas quando concebemos as estruturas organizacionais, que, no fundo, são os mapas das estradas que nos ajudam a trabalhar em conjunto e nos fazem evoluir em nossa totalidade. Por estas estruturas nos guiaremos por toda a nossa vida e carreira, que nos levarão a resultados, reconhecimento, ganhos e nossos tão esperados momentos de lazer.

Quem não possui intimidade com o que faz, acredito que seja um escravo da era moderna, portanto é um autômato assalariado sem vida ou brilho nos olhos indiferente do que faça e que títulos carregue em sua vida “corporativa”.

A intimidade com o trabalho afeta diretamente a nossa autoestima, nossa responsabilidade e os resultados de autenticidade no processo do trabalho. A paixão pelo que se faz retrata em partes essa intimidade, e aqui eu pergunto:

 

Você tem o mesmo prazer no trabalho que você tem no lazer?

 

No final do artigo há um teste que poderá auxiliá-lo nesta resposta.

A outra parte retrata a questão de ganho em relação ao seu trabalho: Se hoje você ganhasse uma herança que te proporcionasse a possibilidade de investir e evoluir na sua carreira, atuando no mesmo segmento, você continuaria?

Não devemos pensar que podemos chegar à intimidade sem esforço ou obedecendo a uma fórmula. Também não preserva a facilidade, pois nem tudo que fazemos é regado somente a alegrias. Cada profissão tem seus próprios “inimigos”. Em nossas atividades de grupo, a intimidade é traída por fatores como normas sem fundamento, medidas de curto prazo, arrogância de superiores ou de clientes, superficialidade e uma orientação mais para o ego que para o bem coletivo, e cabe a nós o discernimento de transformarmos problema sem soluções.

A superficialidade é inimiga da intimidade de uma maneira especial. Quando penso cuidadosamente na razão pelo qual fracassam algumas pessoas competentes, cultas, enérgicas e bem apoiadas com instrumental de qualidade, vemos que, com frequência é o fio “vermelho” da superficialidade e falta de comprometimento com o que “tentam” fazer as coisas que os afundam. Nunca se envolvem de forma pessoal, séria e responsável na tarefa que executam, e na maioria das vezes nunca entregam o que “prometem”.

A intimidade é traída pela incapacidade de nossos líderes de focar e proporcionar continuidade, ambiente sadio e ritmo. É traída pelo fato de encontrarem complexidade onde deveria pontificar a simplicidade. Os líderes que sobrecarregam as pessoas em vez de capacitá-las a fazerem o seu melhor, traem a intimidade e destroem de forma coletiva a si mesmos e aos resultados.

A intimidade é um catalisador e propulsor natural nas empresas e na sociedade. Na realidade nós não vamos às nossas empresas, elas é que vêm e vão conosco. Portanto nenhuma empresa ou instituição pode alcançar coisa alguma sem que as pessoas as tornem o que são. Nossas empresas nunca podem ser nada que não desejamos que sejam. Quando encaramos o trabalho nessa perspectiva, desenvolvemos uma intimidade real com ele, que aumenta o valor do trabalho, de nossas organizações e fundamentalmente de nosso prazer, perspectivas, autoestima, ganhos financeiros, prosperidade e também equilíbrio.

Encontramos a intimidade por meio de uma busca do conforto com a ambiguidade. Não nos desenvolvemos conhecendo todas as respostas, mas vivendo com as perguntas e novos desafios apresentados através de cenários mundiais e incertos. A intimidade deriva da tradução de valores pessoais e corporativos em práticas de trabalho cotidiano, da busca do conhecimento, sabedoria, do fazer o que é justo e perfeito, da melhoria contínua. Acima de tudo, deriva de relacionamentos sólidos e os incrementa. A intimidade é uma maneira de descrever o relacionamento que todos desejam no trabalho, onde muitos deles também se transferem para a vida pessoal… Pois passamos em média 2/3 de nossas vidas nos ambientes de trabalho ou em ambientes diretamente influenciados por ele. A intimida detem que fazer parte do que construímos no trabalho e também na vida!

De maneira geral, há dois tipos de relacionamento na empresa. O primeiro é facilmente compreendido, é o contratual, que regulamenta o trabalho conjunto. Já mencionei acima alguns de seus efeitos nocivos. No entanto há necessidade de mais, em particular hoje, quando a maioria dos trabalhadores se compõe essencialmente de “assalariados”, raramente as pessoas se percebem construindo algo mais elevado, infelizmente. Precisamos trabalhar de fato para o bem coletivo, a qualidade de vida, a melhoria potencial do ambiente e com dedicação plena em fazer bem feito e com isso lucrar sobre as engrenagens da responsabilidade, equilíbrio e sustentabilidade.

Acredito em três elementos-chave na arte do trabalho em conjunto que consistem em:

  • Enfrentar a mudança;
  • Enfrentar o conflito intrapessoal e interpessoal; e
  • O modo de alcançar nosso potencial através de trabalho dedicado.

Um contrato formal quase sempre se apaga sob a inevitável dureza do conflito, da competição e da mudança. Um contrato não tem nada a ver com o alcançar nosso potencial, entrega voluntária, capacidade, energia e atitudes construtivas. Isso sim faz a diferença na construção dos pilares do progresso.

Sempre que eu preciso retirar de minha gaveta um contrato para rever o que foi firmado pelo caráter, pela palavra e pela confiança, percebo de imediato que os resultados estão comprometidos. Pois uma sociedade baseada na letra da lei, que nunca aspire a nada que é mais elevado, não consegue tirar proveito de toda a gama de possibilidades humanas. A letra da lei é demasiadamente fria e formal para exercer uma influência benéfica para a sociedade. Sempre que o tecido da vida é elaborado com relacionamentos “legalistas”, cria-se uma atmosfera de mediocridade espiritual que paralisa os impulsos, amores, e aspirações mais nobres dos homens. E, mais adiante, quando as coisas são feitas somente sobre a demanda do papel, depois de atingido certo nível do problema, o raciocínio legalista induz a paralisia, impede o senso das pessoas de ver o seu significado de vida, de envolvimento, de criatividade, de liberdade e de ser importante na essência do ser.

O relacionamento de consenso, por outro lado, induza liberdade, a vida, ao crescimento.  Apoiam-se em compromissos partilhados com ideias, situações, valores, metas e processos reais de gestão que conduzem a resultados e lucratividade sustentável em todos os termos da palavra. Termos como: respeito, zelo, amor, influência, ternura, química pessoal são indiscutivelmente pertinentes e percebidos diretamente, e em tempo integral. O relacionamento consensual cresce de forma aberta e influente, além de satisfazer necessidades profundas, e permite que o trabalho tenha significado e seja pleno e satisfatório a todos. Refletindo ainda unidade, graciosidade, valores e postura como uma expressão de natureza sagrada e construtiva aos relacionamentos.

O relacionamento de consenso permite que as empresas sejam hospitaleiras a pessoas que pensem diferente, toleram “informalidade” e transformam erros para a busca do novo. Estou convencido de que melhor processo de gestão para o ambiente atualmente é o participativo, baseado na confiança, na execução impecável do que é firmado e no relacionamento consensual.

Firmo ainda que o maior bem de uma companhia não são as pessoas; são as pessoas que fazem diferença no ambiente SOMANDO com a sua dedicação, sua pontualidade, seu comprometimento, seu amor, seu respeito às equipes, seu prazer em entregar o seu melhor…E deveria ser esta a métrica no momento de receberem seus salários!

Como podemos começar a alimentar a nossa intimidade então? Bem, uma maneira consiste em fazer perguntas e procurar respostas.

  • De que modo você relaciona a sua companhia com a sua história?
  • Que negócio explora?
  • Quem são as pessoas que te influenciam na empresa, e como elas o fazem feliz?
  • Quem são as pessoas que te influenciam na empresa, e como você as recompensa?
  • Quem são as pessoas que te influenciam na empresa, e como você as influencia para um resultado positivo em relação ao mercado, carreira e sustentabilidade?
  • Como você enfrenta a mudança e o conflito?
  • Qual é a sua visão de futuro? O que está fazendo neste sentido? E o que pretende tornar-se para a empresa, para a sua família e para a sociedade?

 

Indiferente do cargo que exerça, seu prazer no trabalho estará diretamente ligado a essas perguntas, e espero sinceramente que saiba o que está fazendo e o nível de intimidade que o levou até este momento de sua vida. Pois os líderes são obrigados e tem elevação moral para ponderar estas interrogações.

Sei que você é inteligente, e quero que saiba que neste mercado a maioria o é, mas que só a inteligência não basta, não o levará a plenitude de sua profissão. Em nossas equipes queremos pessoas com quem as outras gostem de conviver, que tenham o prazer da amizade, do compartilhamento, da intimidade e do querer bem.

O prazer, os resultados, o ato da liderança, se queremos intimidade com o nosso trabalho, exigem estes conceitos e boas práticas, no mínimo. Eu acredito que todos nós temos esta capacidade de criação rumo a objetivos cada vez mais elevados.

 

TESTE: Você é feliz na sua atividade atual?

Por favor, responda com o máximo de sinceridade, pois você só tem a ganhar com essa atitude.

  1. Sempre que posso chego antes do horário e se preciso fico um pouco mais após o expediente mesmo que não ganhe horas extras por isso?
  2. Enquanto você trabalha, sente-se de bem com você e com o ambiente?
  3. Voluntariamente você sempre faz ou sugere melhorias em seu trabalho?
  4. Você adora colaborar com os outros membros de sua equipe na sua atual atividade?
  5. Você faz questão de aprender mais sobre a sua atividade diariamente?
  6. Você acrescenta capricho ao que está fazendo atualmente, mesmo que não receba nada a mais por isso?
  7. Você pensa, fica feliz em pensar e fala bem de seu trabalho fora dele?
  8. Você se considera uma pessoa leal em relação a sua empresa?
  9. Você é visto como uma pessoal essencial a sua equipe de trabalho?
  10. Você muda pouco de emprego? E acredita que isso seja uma virtude?
  11. Você vê as mudanças no trabalho como novos desafios, e novas chances de crescer pessoal e profissionalmente?
  12. Você procura soluções quando tem de resolver alguma dificuldade da equipe e dos clientes, ou sempre se justifica por não fazer nada porque aquela é a política da empresa?
  13. Você zela a empresa e defende o patrimônio da sua área de serviço como se você fosse dono da empresa?
  14. Você se antecipa a possíveis quebras, acidentes, ou prejuízos que possam prejudicar a você, a equipe que pertence e a sua empresa?
  15. Você evoluiu o seu nível de crescimento profissional nos últimos 2 anos?
  16. Você sente prazer em acordar de manhã para ir trabalhar?
  17. Você tem intimidade com pessoas que trabalha e sente que influencia os resultados positivos de sua empresa?
  18. Você tem consciência que sua “altitude” pessoal e profissional depende de suas atitudes diretas no seu dia a dia?

Resposta do teste:

Nenhum SIM = Você simplesmente odeia o que faz. Procure outra atividade e faça a sua vida valer a pena.

De 4 a 7 SIM = Você atura o que faz. Selecione outra atividade e mude assim que puder, pois não terá fruto algum na que está.

De 8 a 9 SIM = Você tem certo prazer no que faz mas na concorrência com membros de sua equipe e não os auxiliando. Você dificilmente será promovido apesar deter muita capacidade.

De 10 a 13 SIM = Você tem prazer no que faz. Sem dúvida está no caminho. O sucesso virá em longo prazo, pois você precisa exercer mais influência em sua equipe e nos seus superiores diretos.

De 14 a 18 SIM = PARABÉNS! Você está no caminho certo: tem prazer, paixão, e faz impecavelmente o seu trabalho. Seu sucesso será constante, sua energia contagia e sua influência acontece dentro e fora de seu ambiente de trabalho. Aguarde ofertas de promoções e mantenha-se preparado. Você passará a ser sondado também por clientes de sua empresa e pelos concorrentes diretos dela, portanto mantenha seu zelo e postura que o trouxeram até aqui.

Tenha um fabuloso dia hoje e sempre…

Pois o MERCADO é do TAMANHO de sua IMAGINAÇÃO.

Se você tiver algum comentário, sugestão ou dúvida entre em contato pelo e-mail falecom@paulosilveira.com.br e no campo “Assunto” coloque A Magia do Mundo dos Negócios. Muito obrigado! Paulo Silveira

 

¹Âmago: centro; cerne; a parte fundamental, principal, essencial.

²Exasperar: tornar áspero; enfurecer; irritar; agravar.

³Eunuco: homem impotente ou fraco.

Ambíguo: que se pode tomar em mais de um sentido; equívoco, impreciso.

 

colunistaPaulo Silveira

Conferencista com mais de 2000 palestras, nas áreas de liderança em vendas, vendas consultivas, vendas técnicas, comunicação com base em liderança e influência. Foi contratado por mais de 200 empresas das 500 melhores empresas eleitas pela Revista Exame. Professor convidado da FGV/SP, FIA FEA/USP, UDESC e UFRGS. Consultor, empreendedor e articulista com mais de 900 artigos editados. Autor de 26 livros, destacando-se os best-sellers: A Lógica da Venda e ATITUDE – A Virtude dos Vencedores, lidos por mais de 4,8 milhões de leitores.
É o responsável técnico pelo curso de formação profissionalizante Agente de Vendas, em parceria com a Visual Mídia, que em 11 anos iniciou mais de 2 milhões de alunos na profissão.
Está revolucionando o mercado com novas formas de pensar e treinar equipes comerciais, com formatos disruptivos e inovadores, trazendo resultados nunca antes alcançados!

Sua experiência e conhecimento são amplamente compartilhados em livros e artigos. Esses não só fizeram sucesso entre os mercados corporativos, como também despontaram em vendas para o público geral, tornando alguns dos títulos como livros mais aplicáveis e vendidos do segmento.

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