Você sabia que, por lei, uniformes usados de trabalhadores, como macacões, precisam ter uma destinação ambientalmente sustentável? Eles não podem ser jogados no lixo, e necessitam de uma destinação para reaproveitamento.
Mas o que fazer com todos uniformes de uma indústria, por exemplo? Foi pensando nisso que os jovens Lucas Corvacho e Jonas Lessa, que trabalhavam em uma empresa de uniformes decidiram aplicar uma ideia sustentável a sua produção, criando um novo negócio. Oferecer às empresas um destino mais do que interessante a seus uniformes usados, com a reciclagem do material ou reutilização dos mesmo, como, por exemplo, confecção de brindes.. Devidamente higienizado e picotado, o material descartado dá origem à Retalhar, uma empresa que além de reciclar os uniformes, garantindo a seguridade da marca, confecciona novos produtos a partir dos uniformes recebidos, como por exemplo capas de notebook, estojos, sacolas, aventais, lixeiras de carro, cobertores ou mantas. Mas não há limites para a criatividade e diversos outros produtos podem ser criados. Para melhorar, todo o serviço é realizado por cooperativas de costureiras, que tem um plano de empoderamento para os próximos anos.
A Magia do Mundo dos Negócios conversou com Jonas Lessa, que contou um pouco mais sobre a Retalhar – Logística Reversa:
O que faziam antes do negócio?
Além do curso de Gestão Ambiental na USP, outros dois processos pessoais, paralelos, me levaram a fazer o que faço hoje: o voluntariado na ONG Teto, que ajuda comunidades precárias construindo moradias (passei quase um ano lá e atuei em vários níveis hierárquicos da organização), e o envolvimento com a bateria que animava a torcida da faculdade, a Bateria Bandida. Foi por causa do envolvimento com uma outra bateria, em Paúba, praia do litoral norte de São Paulo onde passo as férias, que eu e Lucas começamos a trabalhar juntos no que seria a semente do negócio.
Em maio de 2013, comecei a trabalhar com Lucas (formado em Biologia) na Lutha Uniformes, empresa que desenvolve e confecciona uniformes, fundada pelo pai dele. Por lá, Lucas já atuava articulando ações sociais, culturais e ambientais. Eu entrei para dar base teórica ao que meu amigo fazia intuitivamente.
A equipe é formada por, além de Lucas e eu, Leonardo Carvalho, Juliana Magalhães, Raffaela Loffredo e Vinícius Sampaio.
Como funciona seu negócio?
A Retalhar é um negócio sócioambiental , que presta o serviço de logística reversa têxtil à empresas que usam uniformes profissionais.
Nos baseamos na Lei de Resíduos Sólidos que hierarquiza a destinação de resíduos. Assim, trabalhamos com a reciclagem e reutilização destes uniformes. As empresas, nossos clientes, pagam pela destinação correta do material fornecido. Somos responsáveis pela higienização das peças, pela descaracterização dos uniformes, ou seja, retiramos a logo da empresa por questões de segurança à marca, e posteriormente encaminhamos a reciclagem ou a reutilização, essa reutilização pode ser desde transformação das peças em brindes ou cobertores populares, como também o repasse de peças à instituições sociais.
Como teve a ideia?
O Lucas, dentro da Lutha uniformes, estava implementando uma área de sustentabilidade e enfrentou a questão da coleta seletiva. A ideia era minimizar a quantidade de resíduos que iam para o aterro, mas, para isso, era preciso entender como administrar os 400 quilos de sobras de tecido por mês. O esforço, na jornada para resolver o problema dos retalhos, acabou levando a perceber uma lacuna no mercado — que destino dar aos rejeitos da indústria têxtil? A partir daí desenvolveu-se a ideia da Retalhar. Ao pesquisar uma solução para os retalhos, Lucas descobriu uma máquina que tritura e desfibra o tecido, produzida por uma empresa pequena no Brás. Com ela, pensou em dois destinos possíveis aos montes de retalhos que sobravam dos uniformes da Lutha: parte poderia ser recosturada por cooperativas de costureiras e ser transformada em brindes; e parte poderia ser desfibrada para se tornar matéria-prima para outros produtos têxteis (mantas térmicas, mantas acústicas, cobertores populares etc). Lucas recebeu a ligação de um cliente encomendando uniformes novos e pedindo auxílio para lidar com os velhos. Como ele já tinha as soluções, ajudou esse cliente, que ficou muito feliz. Depois, surgiram outros e o Lucas entendeu que seria uma demanda contínua.
Qual foi o investimento inicial? E o faturamento atual?
A Retalhar recebeu um investimento semente no valor de R$20.000 quando fez um curso de Responsabilidade e Empreendedorismo Social na FEA -USP em parceria com Nesst Brasil e Blackstone Foundation. Lá, desenvolvi um plano de negócios para a Retalhar e fui premiado com este capital semente.
Não divulgamos o faturamento pela política da empresa.
Qual é a dinâmica de produção?
Após higienização e descaracterização, ou o material é encaminhado para a reciclagem ou encaminhado para a produção de novos produtos que são realizados por cooperativas de costureiras que estão localizadas na periferia da Grande São Paulo.
Como funcionam as vendas?
As vendas são realizadas através de prospects de empresas usuárias de uniformes.
Quais produtos são desenvolvidos?
Os produtos são desenvolvidos juntamente com a demanda de cada cliente, não temos produção de produtos para vendermos em algum canal de vendas.
Houve dificuldades no início? Como as superou?
Falta de contato com ambiente empresarial para justamente criar um negócio. Superamos pedindo ajuda a instituições e pessoas próximas e com humildade para aprender o que não sabiam.
Quais são os planos para o futuro?
Além da logística reversa de uniformes e da trapologia (produção de brindes a partir dos retalhos), Jonas e Lucas pensam em um dia desenvolver algo de alta costura a partir dos resíduos têxteis. Também batuca neles a vontade de fazer reinvestimentos na área social da Retalhar: eles pensam em cursos de aperfeiçoamento para as costureiras da rede, cursos de gestão para os filhos delas e em abrir linhas de pesquisa ligadas ao negócio. Não queremos só gerar renda para os grupos de costura, isso qualquer empresa faz. Queremos gerar empoderamento nas cooperativas com as quais trabalhamos
Qual sua dica para os empreendedores que estão iniciando carreira?
Parto do princípio que toda empresa se sustenta e cresce devido ao valor que gera para a sociedade, atendendo a uma necessidade desta. Portanto, a dica que tenho é: tenha empatia e humildade. Com isso, é provável que se apegue ao problema que sua empresa se propõe a solucionar. É aí que precisa morar sua motivação. Não cometa o erro de se apegar à solução idealizada, pois as chances de frustração são grandes. Daí vem necessidade de humildade: estar aberto a encontrar os ajustes necessários para que seu modelo de negócio seja realmente solucionador!
Lucas complementa que pedir ajuda é essencial, não sabe-se de tudo e ter alguém com maior conhecimento te ajudando é fundamental no processo de empreender.