A VERT, marca de tênis sustentável que chegou ao Brasil em setembro de 2013, já era famosa na Europa com o nome VEJA por estar presente há 10 anos no mercado europeu, com mais de um milhão de pares vendidos pelo mundo. A ideia para criar a marca surgiu de seus idealizadores, os franceses François-Ghislain Morillion e Sébastien Kopp, que deixaram seus empregos na área administrativa e partiram para uma viagem que durou um ano, buscando aprender como projetos de sustentabilidade poderiam impactar o mundo.
Após uma grande viagem para o Brasil em 2005, os amigos resolveram criar a VERT (“verde” em francês) com o objetivo de criar calçados de design clean e urbano, buscando sempre um impacto positivo, tanto na parte social como ambiental. Hoje, com uma produção anual de 110 mil pares e presente em 15 países, a marca conta com uma equipe multicultural espalhada entre Paris, Londres, Berlin, Milão, Rio Branco, Fortaleza, Novo Hamburgo, Rio de Janeiro e São Paulo. Além de lojas nacionais em São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas e Recife, entre outras, que comercializam a marca no Brasil.
Os calçados da VERT têm fabricação e matérias-primas 100% brasileiras desde o início da marca. Segundo os sócios, o Brasil oferece uma base para produção dos tênis por conta do lado social e ecológico, e por isso, toda a matéria-prima é cultivada no país. Desde 2005 a marca já utilizou cerca de 120 toneladas de algodão orgânico, 65 toneladas de borracha selvagem da Amazônia, 160 pessoas encontram uma oportunidade de emprego através das cooperativas e mais 30 funcionários diretos ao redor do mundo.
A VERT aposta no comércio justo como uma ferramenta essencial da economia verde. Por isso, cada par de tênis vendido gera uma média de R$ 1,1 pago aos produtores de algodão do Semiárido Nordestino e R$ 1,0 aos seringueiros do Acre. “Não acreditamos numa visão romântica da ecologia. O nosso caminho é a valorização econômica. Na VERT, isso passa por um trabalho social: os seringueiros e os produtores de algodão recebem um valor diferenciado por preservar as florestas e as terras”, explica François-Ghislain Morillion, co-fundador da VERT.
Lona de algodão Orgânico
A lona dos tênis VERT é feita com algodão cultivado sem insumo químico, nem agrotóxicos feita por associações de agricultores familiares do Semiárido Brasileiro, uma terra marcada por grandes disparidades de riqueza, um solo frágil e uma pluviosidade muito baixa. Consiste em uma agroecologia prática de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Oposta à monocultura intensiva, a agroecologia busca a segurança alimentar da família e a preservação do solo.
O algodão é cultivado em consórcio com outras lavouras, como o milho, o feijão e o gergelim, sem agrotóxicos, adubos químicos ou transgênicos. Já a tecnologia agroecológica foi instaurada pelos parceiros institucionais da marca VERT no Semiárido nordestino: o PDHC (Projeto Dom Helder Câmara), Embrapa Algodão e Esplar (Centro de Pesquisa e Assessoria).
A VERT lida diretamente com as associações de produtores na compra do algodão, reduzindo os intermediários e conseguindo assim aumentar a remuneração dos agricultores. Em 2014, o valor pago pela pluma de algodão foi acordado em R$ 8,00/kg, ou seja, um preço 65% superior ao preço de mercado. Atualmente cerca de 700 famílias estão envolvidas no cultivo do algodão utilizado pela VERT. Além do preço mais justo, a VERT compromete-se por meio de contratos de compra a longo prazo e com preço garantido para a safra. Este sistema opõe-se a atual volatilidade das matérias primas no mundo (algodão, leite, cereais etc.) que acaba prejudicando sempre os pequenos produtores.
Já a borracha vem da cooperativa Chico Mendes que em parceria com o WWF e o Governo do Acre é responsável por 90 famílias de seringueiros que extraem a matéria-prima do coração da Floresta Amazônica, único lugar no mundo onde as seringueiras crescem em estado selvagem.
Este trabalho é feito com a inovadora tecnologia do FDL (Folha Defumada Líquida), desenvolvida na Universidade de Brasília pelo professor Floriano Pastore, que permite a transformação do látex em folhas de borracha sem nenhuma fase industrial intermediária. As folhas são enviadas diretamente para a fábrica para moldar as solas, permitindo assim que os seringueiros vendam um produto semi-acabado e recebam uma melhor remuneração.
A VERT compra a borracha dos seringueiros a um preço diferenciado, melhorando as condições de vida deles e reduzindo o apelo financeiro do desmatamento. Em 2014, o valor pago pela VERT para a borracha selvagem brasileira (FDL) foi acordado em R$ 9,70/kg, ou seja, um preço quase 30% superior ao preço de mercado. Atualmente a área de floresta preservada pelos seringueiros parceiros da VERT é de 9.000h.
Couro de tilápia
A VERT descobriu uma maneira de aproveitar o couro da tilápia, uma espécie de peixe de água doce, nativo do continente africano que se adaptou perfeitamente ao clima brasileiro e hoje é criado em pisciculturas em grande parte do país, sendo conhecida principalmente pela ampla comercialização da sua carne.
Para desenvolver os modelos com a tilápia, a marca utiliza um processo totalmente artesanal. Após a carne do peixe ser vendida, as peles são retiradas e vendidas para fundação Aguapé, no interior de São Paulo, para serem costuradas, formando um minucioso patchwork, com nove peles de tilápia para um par de tênis, o que os torna totalmente exclusivos e dando um destino adequado para não gerarem mais lixo ambiental.
Moda, design e sustentabilidade
A VERT tem investido fortemente em parcerias com grandes artistas e marcas brasileiras, que seguem sua mesma filosofia em relação ao lado sustentável e social do comércio. O maior exemplo foi o projeto “Ouro Branco” realizado em março de 2014, em parceria com o grafiteiro pernambucano Derlon Almeida, que transformou sua residência artística na região do Sertão Central do Ceará, em uma mostra de arte pelas ruas de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Paris, e produziu uma coleção exclusiva de calçados inspirados em suas obras de xilogravura, proporcionando uma nova visibilidade para a marca. “Do outro lado da cadeia produtiva, o consumidor quer design e criatividade. Não basta ser sustentável, o produto deve conquistar”, explica Sébasien Kopp, co-fundador da VERT, responsável pelo estúdio criativo da marca