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Estudo alerta para novos riscos da lama da Samarco

O monitoramento dos rejeitos de mineração da barragem da Samarco na zona costeira e marinha do Espírito Santo e sul da Bahia precisa ser mantido e, mais ainda, aprimorado, pois o nível de contaminação, embora tenha aparentemente diminuído, ainda suscita grande preocupação. No momento, o fluxo da lama, que se concentra no fundo do mar, segue na direção norte do litoral e representa uma forte ameaça à saúde ambiental do banco de Abrolhos, a maior formação de recifes de coral do Atlântico Sul.

Essas são algumas das conclusões a que chegaram o oceanólogo Adalto Bianchini, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o físico Heitor Evangelhista, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e o geólogo Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Eles apresentaram na última quarta-feira (21) ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, os resultados das três expedições de avaliação dos impactos da lama na região da foz do Rio Doce. É o primeiro estudo conclusivo sobre os danos causados à zona marinha após o rompimento da barragem, a maior tragédia ambiental da história do País.

De posse do relatório, o Instituto Chico Mendes, que coordena o comitê interinstitucional criado na época do desastre para acompanhar as medidas de proteção à biodiversidade, vai repassar os dados aos demais membros, entre eles o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturáveis Renováveis (Ibama), a Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo (Iema), para articular novas ações. “Vamos mobilizar todos os parceiros para aprofundar esse trabalho”, disse o diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade, Marcelo Marcelino, do ICMBio.

Contaminação

Após o rompimento da barragem da Samarco, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), e a chegada da lama na foz do rio Doce, em novembro de 2015, o ICMBio e parceiros promoveram três expedições à área litorânea atingida pelo desastre para verificar o grau de contaminação – a primeira em janeiro, a segunda em abril e a terceira em dezembro do ano passado. O trabalho contou com o apoio do navio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sul e Sudeste (Cepsul), unidade do Instituto.

Durante as incursões, foram coletadas amostras da pluma de sedimentos na superfície da água, de rejeitos no fundo do mar e de animais marinhos e outros organismos vivos. Os exames em laboratório detectaram, inicialmente, alto grau de contaminação por metais pesados e elementos químicos – ferro, níquel, cobre, zinco, alumínio, manganês, cromo, arsênio, entre outros – que foi diminuindo à medida em que a lama se espalhava. Apesar disso, os estragos não foram poucos, como revelam o estudo.

Segundo os pesquisadores, entre a primeira e a terceira expedição, foi constatada uma considerável redução da presença de fitoplânctons, zooplânctons, ictioplânctons e bentos nas amostras de água e do substrato (matéria) do fundo do mar. Esses organismos estão na base da cadeia alimentar e sua ausência compromete o equilíbrio de todo o ecossistema marinho da região.

Estresse

Ainda de acordo com os pesquisadores, a área da costa atingida pelos rejeitos, que se estende por centenas de quilômetros a partir da foz do rio Doce, está ambientalmente seis vezes mais “estressada” do que o normal. Nesse caso, é recomendável manter a proibição da pesca, principalmente a de arrasto, que revolve o fundo do mar e pode causar a “recontaminação”.

Ao comentar as ameaças que recaem sobre a região de Abrolhos, onde o ICMBio mantém o parque nacional marinho, os pesquisadores admitiram a presença de “micropartículas” de ferro nas amostras de água coletadas na região, o que pode ser um sinal de que a lama está se aproximando. No entanto, segundo eles, ainda não é possível afirmar “taxativamente” que o arquipélago foi atingido pela contaminação.

Diante desse quadro, eles recomendaram a manutenção do monitoramento em toda a região afetada pelos rejeitos, com a inclusão de novas e mais precisas medidas de avaliação. Só assim, disseram os pesquisadores, será possível ter um controle mais efetivo da evolução do processo de contaminação e saber ao certo se o impacto já causado ao meio ambiente é “agudo”, ou seja, de curto prazo e reversível, ou “crônico”, isto é, definitivo e sem solução.

As informações são do ICMBio

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