Com a cada vez mais crescente introdução antecipada de crianças e adolescentes a aplicativos digitais, tecnologias “arcaicas” como…impressoras e scanners configuram, hoje, uma dificuldade técnica da chamada “Geração Z” dentro dos ambientes de trabalho.
Isso, vale citar, não somos nós afirmando (embora a gente admita umas risadas bem gostosas), mas o jornal britânico Guardian, que entrevistou diversas pessoas entre 18 e 25 anos – a parte da Geração Z que já está trabalhando formalmente em um ambiente de escritório – e descobriu que tecnicalidades como as citadas acima lhes são um obstáculo.
De um trecho da matéria:
“‘Coisas como scanners e copiadoras são complicadas’, disse [Garrett] Bemiller, de 25 anos e natural de Nova York, e que trabalha como publicitário. A primeira vez que ele precisou copiar algo no escritório não correu exatamente como o planejado. ‘Todas as páginas saiam em branco, e me custaram algumas tentativas para perceber que eu tinha que posicionar o papel de cabeça para baixo na máquina para ela funcionar’” – Guardian
Geração Z levada à sério
Todas as piadas à parte, o jornal conversou com especialistas acadêmicos, que afirmam que toda a noção de que as crianças e adolescentes de hoje já “nascem preparadas” para o meio tecnológico é meio que um mito.
Na prática: desde cedo, eles aprendem a navegar por apps, entendem o conceito de exibição multitarefas de programas em smartphones e tablets e conseguem realizar edições de foto e vídeo simples para postagens no Canva ou TikTok. Mas quando a coisa exige um conhecimento pré-digital – ou, ao menos, de quando software e hardware eram mais interligados – tudo muda de figura, e esse público específico tende a cometer mais tropeços.
Isso não é exatamente novo: no YouTube, o que mais se pode encontrar são vídeos de “reação” sobre como gerações mais jovens interagem com tecnologias mais antigas – naturalmente, a maior parte desse conteúdo remete a produtos que já eram antigos bem antes da Geração Z nascer, como o Nintendinho, ou o primeiro iMac – mas a cada ano, o parâmetro vai ficando mais e mais para frente, e os protagonistas dos vídeos, mais e mais jovens.
A matéria exemplifica isso também, com outro entrevistado – este, mais velho:
“Steve Bench promove workshops sobre diferenças de entre gerações dentro do mundo corporativo: ‘eu costumo brincar, durante minhas sessões, que meus estagiários da geração Z não sabem mandar uma carta pelo correio’, ele conta. ‘Eles me perguntam onde colar o adesivo, e eu sempre respondo ‘você quis dizer o ‘selo’?”
Segundo o jornal, a HP até cunhou um termo específico para isso: tech shame. Essencialmente, gerações mais novas se sentem julgadas pelas mais velhas ao encontrarem problemas com aplicações básicas – mais antigas – de escritório, o que faz com que eles evitem pedir ajuda e corram atrás de soluções por conta própria…em meios digitais como Reddit e fóruns do tipo.
Uma pesquisa citada pelo jornal, feita pela Dell, afirma que 56% dos respondentes entre 18 e 26 anos de idade tinham “pouca ou nenhuma educação prévia” do tipo. A conclusão é: por que esperar que eles simplesmente “saibam” configurar uma impressora sendo que eles nunca tiveram o devido treinamento – no trabalho ou fora dele – para isso?
Por outro lado, o uso cada vez mais aprofundado das redes sociais, argumentou um entrevistado, tem um peso negativo nisso:
“‘Apps como Instagram e TikTok são tão simples que as pessoas mais jovens esperam que todo o restante seja fácil também. E quando não é o caso, eles são mais propensos a desistirem. Literalmente, você aprende a usar o TikTok em cinco segundos. Você não precisa de um manual, como seria o caso com uma impressora. O conteúdo tem um acesso tão facilitado agora que, quando você joga uma ‘bola curva’ simples assim em alguém, eles erram, e é por isso que a geração Z não sabe nem agendar uma reunião no Google Meet.’”
Bemiller, o jovem que abre o texto do Guardian e este, é um desses casos: sempre que chegava ao escritório e ligava a sua máquina de trabalho, ele via uma notificação do serviço de armazenamento Dropbox. Ele clicava em “OK” sem dar muita atenção ao que a janelinha dizia e, eventualmente, seu computador começou a ficar terrivelmente lento, até parar de vez (ou “dar pau” para nós, mais velhos).
O problema foi descoberto pela área de TI da empresa ao mesmo tempo em que um novo laptop chegou ao jovem: o Dropbox estava oferecendo o backup de todo o seu conteúdo de forma local – ou seja, salvar arquivos no HD da máquina. Mais e mais arquivos, mais e mais leitura do disco, mais e mais processamento, mais e mais lentidão. A solução: clicar em “não” ou “cancelar” quando a janela aparecesse.
“Ter assassinado aquele pobre laptop ainda me faz dar risadas”, disse o jovem.
Créditos: TecMasters